Números para compreender a política e a sociedade em Israel
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Números para compreender a política e a sociedade em Israel

Como ocorre em diversos países, há em Israel uma disputa de narrativas. E um dos pontos centrais de toda a discussão gira em torno da ideia de "maioria". Ou seja, quem fala em nome da maior parte da população e quem é mais representativo de s...

Henry Galsky
4 min
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Como ocorre em diversos países, há em Israel uma disputa de narrativas. E um dos pontos centrais de toda a discussão gira em torno da ideia de "maioria". Ou seja, quem fala em nome da maior parte da população e quem é mais representativo de seus melhores interesses. Embora Benjamin Netanyahu tenha retornado ao cargo de primeiro-ministro a partir da formação de uma coalizão de 64 membros da Knesset (são 120 cadeiras no total), este dado não encerra o debate. Ao contrário do que o próprio Netanyahu quer dar a entender, o seu sucesso político de momento não significa que ele tenha recebido um "cheque em branco" para fazer o que bem entende, em especial a reforma do Judiciário que está em pauta.

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Por isso, de forma a ilustrar a realidade do país, vale apresentar números que, por si, são capazes de mostrar suas contradições e complexidades:

Em 1 de novembro de 2022, Israel realizou seu quinto processo eleitoral em menos de quatro anos. A população total é de pouco mais de 9,6 milhões, de acordo com o relatório do mês de janeiro de 2023 do Escritório Central de Estatísticas (CBS, em inglês). Há 6,78 milhões de israelenses aptos a votar. O voto não é obrigatório, e nas eleições houve comparecimento de 70,6% dos eleitores que puderam escolher entre 39 partidos.

O resultado objetivo é esta coalizão formada e que novamente colocou Netanyahu como figura central do jogo político. Ele não exerceu o cargo de primeiro-ministro por apenas 14 meses, tempo em que trabalhou como líder da oposição e principal interessado em derrubar a mais diversa formação de governo do país, que uniu partidos de centro, direita, esquerda e uma legenda árabe.

Hoje, a população árabe em Israel é de cerca de 2 milhões de pessoas. Não são palestinos sob o ponto de vista jurídico. São árabes com cidadania israelense. Há cerca de 7,6 milhões classificados como cidadãos judeus e "outros". Este grupo inclui judeus, a população não classificada pela religião e cristãos não-árabes. Deste total, 7,1 milhões são judeus.

De acordo com as informações do Instituto de Estudos de Segurança Nacional (INSS, em inglês), da Universidade de Tel Aviv, o comparecimento da população árabe às urnas foi de 53,2%, dado superior ao percentual de 44,6% registrado nas eleições de março de 2021, mas inferior aos 64,8% do processo eleitoral de 2020. Na ocasião, a Lista Árabe Unida (associação entre os partidos árabes Hadash, Ta’al, Balad e Ra'am) obteve o número recorde de 15 mandatos na Knesset (do total de 120 cadeiras, importante lembrar).

A lista unificada de partidos se desfez parcialmente. Com comparecimento da população árabe inferior ao de 2020, as legendas árabes também obtiveram menos cadeiras no parlamento: cinco para o partido Ra'am e cinco para a união Hadash-Ta’al. O partido Balad não obteve votos suficientes para ultrapassar os 3,25% mínimos da chamada cláusula de barreira.

Com Benjamin Netanyahu ainda como protagonista da política israelense, as fidelidades e dissonâncias são divididas em torno do primeiro-ministro. E, desta forma, esses são os números que resumem a principal divisão política da sociedade: o bloco de partidos pró-Netanyahu recebeu 2.361,739 votos (49,57% dos votos totais); o bloco dos partidos anti-Netanyahu recebeu 2.331,788 votos (48,94% dos votos totais). A diferença entre os blocos foi de apenas 29.951 votos.

Por tudo isso, é difícil sustentar posições simplórias ou estabelecer maniqueísmos sobre a sociedade israelense. Lembrando que as manifestações contra a reforma do Judiciário têm reunido mais de cem mil pessoas, ou seja, mais de 1% de toda a população do país. As disputas narrativas refletem em boa medida a grande divisão e as divergências de posição entre os israelenses.