Resposta: Existia um mito sobre "O Homem Fantoche" e a Árvore. A árvore foi colocada como o "ninho" ou "lar" do cara de Marionete porque foi lá que a primeira vítima conhecida de abuso infantil foi encontrada morta na árvore da escola. As crianças inventaram essa lenda urbana de "Homem Fantoche" e como o menino que narra era muito imaginativo, ou traumatizado, ele realmente conseguia ver a criatura. Essa criatura só existia na cabeça dele, e ela representa a personificação do abuso infantil, mas todo mito, toda lenda parte de uma coisa real, o real é que o agressor desconhecido de Jason usou aquelas roupas (ou usava toda vez que fazia algo) e enterrou o corpo debaixo do carvalho. É possível que "ele" quem quer que ele seja, não usava a fantasia com frequência, mas que tenha a deixado junto com as roupas de Jason como uma "assinatura". Todo mito e lenda surge de uma verdade, porque a maioria das religiões, crenças, metáforas e etc são jeitos da gente identificar "coisas" metafísicas como algo material. E nesse caso, O Homem Fantoche surgiu como uma lenda infantil relacionado à roupa que o agressor foragido de Jason deixou na cena. Para os adultos, é fácil entender ela como um traje, e um abusador foragido, para as demais crianças, é um monstro literal, e para o garoto, é alguém com quem ele conversa.
A questão do pai dele contar todas as atrocidades que via como policial para o filho era uma forma de "desabafar" de não guardar aquelas memórias e sabedorias sozinho. Isso seria a realidade do mundo cruel e todas as cenas que a gente vê, mas se nem o pai dá conta de lidar com elas, quem dirá o filho... É possível que ele não tenha sido vítima desse tipo de abuso, mas que o acesso a saber da existência dessas coisas tenha o traumatizado pra sempre. Nesse sentido funciona como o Frenesi de Bloodborne, ou em outras obras que conforme mais atrocidades você vê, mais frágil mentalmente você fica.
Resumindo o que é o "Homem Fantoche" ele é a representação física do abuso infantil, um conceito metafísico que não existe materialmente, mas que tudo que a gente vê de material é o efeito daquilo. Por isso o bichão fala que o único real é o que ninguém vê (ninguém exceto a criança que deve ser meio esquizo)
Ele te descreve todas essas coisas do jeito mais literal e abstrato possível, o principal tema tá muito nas frases, nas entrelinhas, e nas desconexões... ou seja, toda vez que alguém de fora da sua imaginação interage com ela de determinado jeito. Quando ele diz que vê a "roupa colorida" do homem fantoche se desfazendo, o que aconteceu de fato foi que ele desenterrou o corpo de Jason, e que durante a sua leitura em casa ele teve uma "pista" de onde o menino estaria. O que parece sobrenatural, parece que a imaginação dele revelou algo do mundo material... mas não necessariamente. Foi só uma coincidência, o corpo dele sempre estava lá. Só ocorreu de ninguém ter ido lá procurar, e um devaneio dele o levava pra onde ele sempre foi. Nesse parte o conto não debate se o mundo "imaginário" ou "espiritual" de fato reage com o mundo "material" ou foi só uma coincidência. Mas foi um dos dois.
Numa análise mais psicológica da coisa, era a imaginação do menino, analisando "literaturalmente" como essa imaginação atua ela é uma entidade cósmica. Algo inimaginável, anterior à nossa moralidade, invencível e inevitável. Algo que nos lembra da nossa impotência.
Lovecraft coloca as entidades cósmicas de seu universo como a sua descompreensão com o multiculturalismo, a raça negra e tudo que é do mundo e não segue o modelo nazifacho e positivista. Mas sobretudo essa questão das culturas diferentes, das raças diferentes.
Pra ele é algo arrasador, algo que não é nem bom ou ruim por eles mesmos, porque eles são incapazes de se julgar, (deuses ancestrais) (negros) mas que pra "nós" (brancos nacionalistas como o autor) (vítimas) é ruim e invencível.
É problemático? Sim. Mas produz uma autocrítica, e da munição pra essa ideia ser revisada e utilizada de outras formas.
Por abuso infantil entenda-se desde "chinelada pra educar" até "estupro" O conto coloca essa criatura cósmica como o Abuso Infantil. Porque ele é um ciclo sem fim, onde quem é agressor geralmente foi vítima, e quem é a vítima pode tornar-se um se não o quebrar. Digo isso não baseado em nada, mas em outras histórias que descreveram esse tema com a mesma impotência e pessimismo: Batman Gritos na Noite e Tommy Taffy. (tanto que o Felipe colocou a mesma voz do Tommy Taffy no homem fantoche)
É aí que por exemplo o menino diz: Se quebrasse o mundo quebrado... eu estaria realmente quebrando alguma coisa?
A melhor forma de entender essa história são duas. 1) com essas frases desconexas e 2) com como os adultos de fora da imaginação do narrador reagem às coisas.
Cuidado ao ficar comparando o significado real com a visão imaginária do mlk. Ele se perde bastante nos próprios pensamentos e jeitos de ver as coisas e não tá tentando fazer um paralelo direto o tempo todo. Se você interpretar essas frases obviamente impactantes sozinhas (mas já sabendo mais ou menos que a história se trata disso) você vai conseguir interpretar as mensagem tranquilo.
Quanto ao segundo, ele é uma ótima pista pra muitas das coisas que acontece, e principalmente pra você interpretar o acontecimento do que acontece dentro da história "de fora da visão da criança" "da visão material". Foi assim que o final por exemplo descreveu com tanta sutileza e fantasia uma criança desenterrando o corpo de um colega e é assim que o conto descreve sutilmente as pistas do acontecimento das coisas mais nojentas e cruéis do mundo de forma lúdica e sutil... É muito fácil passar batido pelo significado real, e eu confesso que só consegui interpretar tão bem pq recebi uma ajudinha dos amigos nos comentários.
Uma resposta que ou eu não entendi, ou ficou em aberto é: O que são esses tufos de pelo cor de neon? No sentido metafórico, é uma marca. Traumas desse tipo deixam marcas irreversíveis. Os pelos são uma pista material de que o abuso infantil passou por ali. Na vida, esses tufos de pelo pode ser desde marcas de cinta e vara nas costas (que nunca saem) vermelhidão de marcas de chinelo, marcas de automutilação, sêmen, vaginismo, trauma de toque etc. No conto, sob a visão do garoto, essa marca irrenunciável é um tufo de pelo cor neon. Mas o que me deixou agoniado é o que isso é no mundo material?
Talvez possa ser qualquer coisa, mas eu não acredito que seja. Creio que seja algo específico. Aqui você usa a segunda dica: Como os adultos de fora da imaginação do narrador reagem às coisas.
Quando a criança é hostiliza pelo policial, nos 10:08 com o "Você fez isso??" "Você colocou aquilo?" Ele se refere a esses tufos neon. Nos 13:51. A mãe do garoto encontra os tais tufos de pelo neon no travesseiro e manda ele SAIR DO QUARTO pra limpar. Nesse contexto fica claro que seja lá o que for, a mãe sabe que é algo ruim e não quer contar. E no final do conto as últimas palavras que sugerem que esse perigo não foi embora é ele falando que anos depois encontrou mais um tufo.
Interpretando sobre esse viés de que é é uma marca e que o tufo neon não é literalmente um tufo, pode ser qualquer coisa, e sugere que o abuso infantil nunca vai acabar
Mas a história dá uma pista que revela que talvez o "tufo neon" no mundo material seja realmente um "tufo neon". Que é quando os policiais comentam que a fantasia sumiu. Nesse caso, o tufo não seria uma marca de que o conceito metafísico de abuso passou por ali, mas sim que a própria pessoa, no caso o assassino do Jason que deixa essa marca, que ele fugiu e ainda está vivo. Levando em consideração também que sumiu do armário de provas da polícia, é possível que esse criminoso seja um policial.
Mas quem exatamente é essa pessoa? Não saberemos. E diria que não importa.
Pessoas assim estão em todos lugares, não só nos noticiários, mas mais perto do que você imagina. Na polícia, na rua, dentro de casa, um tio, um vizinho, um pai... Uma conduta errônea e desfuncional é "não falar sobre" ou "guardar segredo". Como se isso fosse proteger de algo. Quando o garoto fala do mundo muito frágil: Trecho: " Como eu posso esquecê-lo, quando tudo mais, o carvalho, a polícia, o céu, e minhas próprias mãos trêmulas pareciam tão frágeis e desbotadas. O homem fantoche era a única coisa vibrante, a única coisa que brilhava, a única coisa... real.
Isso também fala sobre a impotência das instituições, que não são nem serão capazes de acabar com esse mau invencível, mas também que toda essa estrutura familiar tradicional é frágil mediante isso. Não só é frágil, como é de fachada. O homem fantoche chega a comentar que a mãe do Jason não gostava dele. Isso acontece muito nesses casos de abuso. A mãe ou familiares não acreditam na vítima, no filho; ou acreditam mas querem proteger alguém, proteger uma imagem, uns valores familiares. Falsos e frágeis.
Ainda sobre esse lance de esconder, do tipo de cara que faz isso querer deixar em "segredinho" tá bem representado nos 13:51. Onde a criança começa a interagir com esse fantoche (aqui nesse caso é só imaginação dele msm) e na hora que a mãe chega ele assusta, como se ele estivesse fazendo algo de errado. Isso também é um comportamento a se atentar, comum em vítimas de abuso sexual infantil. Elas não entendem o que é sexo, elas não sabem o que tá acontecendo, ou que estão fazendo (no caso que estão fazendo com ela) mas de alguma forma, elas sentem que é algo errado, que é algo que precisa ser escondido... Sempre sentem.
Tommy Taffy fala muito sobre esse lance de esconder e sobre essa fachada também. Quando o Tommy está em todas as casas, mas que ninguém fala sobre. Que todo mundo sabe e finge que não sabe. Esse: "mundo quebrado"
Outra coisa interessante de comentar, é em como essas 2 entidades se tratando de abuso infantil tem características e comportamentos um tanto quanto infantis. Primeiro pq efebofilia e pedofilia é uma falta de amadurecimento... a atração do cara que comete não cresce com ele. Agora se tratando de nada sexual, mas sim de violência doméstica pra "educar" o pai que bate no filho tá reproduzindo o comportamento que ele viu quando criança. Ele não superou, se ele age assim, é pq ele ainda está preso no trauma infantil.
Essa história é absurdamente boa, profunda e impecável, e pode ser interpretada de várias maneiras diferentes, mas semelhantes, a depender dos detalhes.
Mas em resumo é isso: O abuso infantil sob a imaginação de uma criança; descrita como uma entidade que nos lembra da nossa impotência e com um plano de fundo desesperador.