O método fônico é um retrocesso?
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O método fônico é um retrocesso?

O método fônico é um dos métodos de alfabetização. Entre eles há: i) métodos sintéticos que podem ser o fônico, silábico, alfabético ou de soletração, neles o início da alfabetização parte das menores unidades da palavra – fonemas, letras, sí...

Mariane Assis Dias06/02/2021
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O método fônico é um dos métodos de alfabetização. Entre eles há: i) métodos sintéticos que podem ser o fônico, silábico, alfabético ou de soletração, neles o início da alfabetização parte das menores unidades da palavra – fonemas, letras, sílabas em direção aos morfemas, palavras, frases, textos, ou; ii) métodos analíticos, também denominados de métodos globais que podem ser por palavração, sentenciação ou textos/contos que se dão do todo para as partes – nesses métodos a linguagem funciona como um todo significativo e que a criança primeiro percebe esse todo e só depois procede à análise das partes (Benedetti, 2020). Os métodos são um meio para se alcançar a alfabetização, não o fim em si. A finalidade da alfabetização é a compreensão e produção de textos. Sendo que para se chegar a esse fim é preciso primeiramente aprender a ler, ou seja, adquirir o domínio do sistema de escrita alfabético e a partir disso ser capaz de decodificar palavras (ler) e codificar (escrever) e o método de alfabetização contribui para essa aquisição. Sobre isso há duas correntes teóricas que defendem formas diferentes de aquisição do domínio da leitura e são elas:

1  – Há quem defenda que se aprende a ler, lendo e que, portanto, se adquire o domínio do sistema alfabético naturalmente como resultado do amadurecimento cerebral respaldado pelas interações sociais do indivíduo com o meio em que ele se relaciona. O que já foi refutado pela ciência cognitiva de leitura e exposto no artigo “Não nascemos programados para ler” do clube de assinatura. Um estudo dos pesquisadores Bennet e Sally Shaywitz, da Universidade de Yale dos Estados Unidos, acompanharam no decorrer de vários anos, centenas de crianças e identificaram que à medida que se melhora a leitura, ou seja, como um reflexo da aprendizagem e não de um simples efeito da maturação cerebral, algumas regiões do cérebro identificadas pela maior habilidade em leitura vão aumentando e isso depende mais do nível de leitura alcançada pela criança do que de sua idade. Não basta para a criança a maturação cerebral advinda da idade e simples exposição ao ambiente letrado, primeiro precisa aprender a ler (esse trabalho foi citado no livro “Os neurônios da leitura” de Stanislas Deahene). Nas últimas décadas o Brasil sofreu influência de duas teorias que consideravam a leitura como uma construção de hipóteses levantadas pelas próprias crianças de acordo com o seu desenvolvimento e interação com a linguagem, dada através de um ambiente letrado, são elas: o movimento Whole Language que refere-se a um método global de alfabetização e foi uma das teorias que serviu como fundamentação e reforço para as práticas atualmente disseminadas e no Brasil, a Psicogênese da Língua Escrita. Tanto o movimento Whole Language, quanto a psicogênese da língua escrita baseiam-se na falsa premissa de comparar a natureza da linguagem falada (inata, biologicamente herdada) à natureza da linguagem escrita, uma invenção cultural, um código de transcrição fonética que necessita ser aprendido (Benedetti, 2020). Frank Smith (1973) um dos fundadores do movimento Whole Language citou que decodificar não era relevante e que o objetivo da leitura era construir significados e a criança não deveria se distrair com outras tarefas. No entanto, as evidências comprovam que a decodificação não é apenas relevante, como essencial para formação do bom leitor.

2  -  Há quem defenda que para ler, a criança precisa aprender a ler e para isso precisa ser sistematicamente ensinada. Essa corrente está de acordo com as descobertas das últimas décadas da ciência cognitiva da leitura que aponta que a aquisição do domínio do sistema alfabético não é natural e que a melhor forma de ensinar uma criança a ler é por meio da relação grafema-fonema ou popularmente conhecida como relação letra-som (Dehaene, 2012). Pois o alvo do sistema alfabético são os fonemas visto que o português é um idioma fonético representado por um alfabeto. Os gregos aperfeiçoaram o alfabeto fenício e determinaram que os símbolos da escrita não deveriam representar os elementos de significado, nem mesmo sons complexos como sílabas inteiras, mas sim, classes de menores unidades sonoras da língua falada, os fonemas, e conceberam uma notação escrita capaz de transcrevê-los.

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