Mi piace a Carlo, ma non così tanto
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Mi piace a Carlo, ma non così tanto

Ancelotti é ótimo! mas é adequado ao momento?

Bruno
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Ele é o maior vencedor de Champions League na história (4), já ganhou campeonato Italiano, Alemão, Francês, Espanhol e Inglês, este último mesmo com uma equipe abaixo do esperado. Entre copas e recopas nacionais, já ganhou tudo possível. Mesmo assim eu ainda não curti tanto essa contratação do Ancelotti pra Seleção Brasileira como deveria (e não, ainda não estou louco).

Apesar dele ser gringo - e europeu - como eu queria, acho que o momento do Brasil ainda pedia algo mais adequado e realista. Não entendam mal, eu sou fã de carteirinha do Ancelotti. O cara é uma lenda viva, mas tem certas coisas que não podemos ignorar…

Antes de mais nada é bom pontuar as coisas que eu gosto no Ancelotti: seu estilo de jogo, a vontade de vencer, o respeito pelo talento (mas no passado já foi retranqueiro) e a coragem pra barrar, quem quer que seja, se estiver em má fase.

(alô Neymar! Ancelotti já barrou a grande contratação do Real, Hazard, recentemente, e quando era um iniciante ele barrou o medalhão R. Baggio no Parma)

Torço muito pra que Michelangelo seja tão bem sucedido na seleção como foi seu xará florentino em Roma, e que o hexa seja fruto de uma obra prima do mesmo nível da Capela Sistina (sim, o nome do meio de Carlo Ancelotti é Michelangelo. Seria um prenúncio de sua genialidade?), mas eu pontuarei 4 coisas que me preocupam:

1: (Des)conhecimento da várzea local

As vezes esquecemos disso mas o Brasil ainda é uma várzea. E não estou nem falando dos péssimos gramados não! Tô falando de bagunça, infraestrutura, amadorismo de dirigentes, política, campeonatos e regras confusas, e má educação da torcida.

Vamos por partes... um técnico de seleção tem que conhecer os jogadores do país. Além das transmissões serem uma porcaria - e muitas delas com narrações horríveis!!! (sorte dele não entender português ainda) - assistir jogos in loco é um desespero. Não temos trens como na Europa. Os aeroportos são umas bostas. Voos atrasam. O país é grande pra cacete. E alterações de estádio são frequentes. Um dos melhores times, o Palmeiras, toda hora tem que jogar FORA do Allianz por causa de algum show. Será estressante pro Carlito!

As regras dos torneios também são toscas. No Brazuca e na Copa do Brasil OK. Mas temos estaduais, lembram? Cada um com um modelo diferente e regras bizarras. Além do mais, estamos em processo de criação de ligas. Não uma, mas duas! Libra e LFF. Alguém duvidaria se em breve os dirigentes imbecis criassem 2 torneios diferentes, como em 87?

Pra piorar a CBF é uma zona política e os dirigentes (de clubes e de federações) amadores. Até pouco tempo atrás marcavam jogos da seleção e do brazuca no mesmo dia. Até pouco tempo atrás tinha dirigente que não liberava seu jogador pra seleção olímpica. E provavelmente até hoje tem empresário mandando em convocação da seleção.

Sem contar a má educação da torcida. Na última copa torceram contra o Brasil e o Neymar por causa de política!!! Carlo vai ter que se acostumar a convocar em função do voto ao invés da chuteira? ele vai convocar quem quiser e aguentar a pressão? ele nunca foi testado assim. Ele não tem conhecimento da Várzea Brasil. E quem tem?

Falando de gringos, eu também gosto de 4 outros nomes. Dois portugueses e dois não. Klopp e Guardiola seriam escolhas muito boas, mas eu tendo a preferir o espanhol ao alemão pelos motivos citados aí em cima. Klopp talvez pedisse demissão em 6 meses, hehehe.

Mas os 2 portugueses são ainda mais adequados do que Guardiola nesse sentido (eu disse adequados, não melhores): J. Jesus e A. Ferreira. Ambos conhecem a Várzea Brasil, sabem como funciona e se adaptaram muito bem. Tão bem que me arrisco a dizer que são os 2 melhores técnicos que já atuaram no Brasil!

Ambos saberiam onde, como e quando peneirar os próximos craques. Achariam laterais onde nós não vemos. Encontrariam soluções pro ataque como nenhum outro técnico. E acima de tudo, não tolerariam interferências nem de político, dirigente, jornalista ou torcedor babaca! (e talvez seja justamente por isso que a CBF se afastou de ambos).

2: Baby-sitting Coach

Ser técnico na Europa é mole. Estuda-se tática. Pede X ou Y pro jogador e pronto. Seu papel tá feito. A vitória pode não vir, mas o cara vai fazer o que você pediu.

No Brasil é diferente. Pra ser técnico no Brasil é preciso algo a mais. É preciso ser babá de jogador. Não adianta pedir X ou Y pro cara. Você tem que dominar a arte da psicologia infantil.

Jogadores fazem sua função em campo, ou não, dependendo de como está seu carro novo, a mulher, a amante, o cabelo, a quantidade de likes no Instagram, o dízimo da igreja (se for evangélico) ou até o horóscopo (se não for evangélico). Se alguma coisa estiver em desconformidade pode ser que ele não performe bem.

Outro ponto: se você gritar de forma errada com ele no treino, corre o risco dele sair chorando e pedir pro empresário arrumar briga contigo. Se você criar um treino de um jeito que o elenco não goste, corre o risco de ser “fritado” internamente. Se não souber conversar e fazer o papel de “paizão”, tal como Felipão fez, ESQUECE!

Será que Ancelotti é o cara ideal pra esse perfil? ele conseguiu apaziguar um desentendimento entre Viny e Benzema. Baixou a bola do insatisfeito Hazard. Mas também já teve problemas por ser “bonzinho demais” (https://www.uol.com.br/esporte/futebol/colunas/rafael-reis/2023/02/12/favorito-da-cbf-ancelotti-ja-perdeu-emprego-por-ser-bonzinho-demais.htm).

Ser um paizão não é ser um mordomo. Pai tem que ser duro quando precisa, mas do jeito certo. Mais uma vez, 3 dos 4 citados lá em cima são opções mais adequadas: Guardiola, Jesus e Ferreira.

3: Sai parlare portoghese?

Por fim, algo menos importante mas ainda fundamental é o domínio do português. Ok, além de inglês e (pouco) alemão, Carlo fala francês, espanhol e italiano, três línguas que podem facilitar sua comunicação em português, mas… ele mesmo confessa que tem dificuldades em falar algo que não seja italiano (https://www.uol.com.br/esporte/futebol/ultimas-noticias/2009/06/02/ult59u198736.jhtm).

A comunicação pode não parecer algo relevante pra quem ganhou tudo na Alemanha, Inglaterra, Espanha, Itália e França, mas no Brasil as coisas são mais complicadas. Não estamos acostumados com treinadores gringos.

No século passado tivemos 3 gringos no comando da seleção, mas só um treinou pra valer. Os outros dois apenas estiveram no banco em jogos festivos ou amistosos, ou dividindo a função com um brasileiro. E todos os 3 falavam português (https://www.cnnbrasil.com.br/esportes/tecnicos-estrangeiros-ja-comandaram-a-selecao-brasileira-relembre-nomes/).

Por um lado é bom não saber português pra não ter o desprazer de ouvir tanta bosta que nossos jornalistas falam, mas por outro, é uma dificuldade a mais para passar suas táticas aos jogadores que, lembrando, já tem o péssimo costume de serem mimados e não entendem quase nada de tática. E se não entendem nem em português, imagina em italiano!!!

Guardiola, fã de futebol brasileiro, faria essa missão de olhos fechados. Acho que um cara que aprendeu alemão antes mesmo de pisar na Alemanha já chegaria no Brasil falando até gíria da favela carioca!!! (https://www.record.pt/internacional/paises/alemanha/detalhe/pep-guardiola-ja-fala-alemao-826641)

4: O momento do Brasil

Mesmo com tudo que escrevi acima, Ancelotti seria a escolha perfeita se não estivéssemos na fase em que estamos. No fundo do poço. Na pior fase da história da seleção.

Antes de ganhar a copa em 58 tivemos fases ruins, mas também boas. Fomos vice em 50. Tivemos grandes astros como Domingos da Guia e Leonidas. Adversários tinham respeito.

Depois do Tri em 70 ficamos 24 anos sem títulos, mas jogávamos bem. Fomos 3º em 78. Tocamos o terror em 82. Adversários tinham medo.

Hoje a seleção é quase tão vergonhosa quanto o time do Va2co! Não ganhamos uma copa há 21 anos (serão 24 até a próxima) e desde 2006 não temos um time de respeito. No máximo uma ou outra estrela brilhando sozinha em campo.

O que isso quer dizer? NÃO TEMOS TEMPO. E O TORCEDOR NÃO TEM PACIÊNCIA.

Como falei antes, estou feliz com a escolha do Ancelotti, ou melhor, ALIVIADO por não ser mais uma porcaria de técnico brasileiro qualquer, mas vamos lembrar que a CBF vai ter que esperar um ano pelo cara (https://ge.globo.com/sportv/programas/selecao-sportv/noticia/2023/06/19/cbf-define-carlo-ancelotti-sera-o-tecnico-da-selecao-a-partir-de-2024.ghtml)!!!

Um ano jogado fora. Um ano a menos sem adaptação. Quando ele chegar, levará tempo até se acostumar com a Várzea Brasil, jogadores mimados e idioma diferente. Quando finalmente estiver adaptado, terá menos tempo ainda para consolidar suas táticas e modo de jogar. E quanto a variação tática? já nem espero isso! coitado. Não terá tempo.

O torcedor não terá paciência com Ancelotti. E ele não terá tempo suficiente para adaptação!

Caso o Brasil não estivesse na pior fase da história, quem sabe teríamos mais tolerância para passar mais um ano sem ganhar uma copa? quem sabe daríamos tempo ao italiano para ele se adaptar e colocar tudo em ordem da maneira que ele precisa?

Se tivéssemos tempo, esse texto não existiria. Não faria sentido. Como não temos, devo admitir que, apesar de aliviado, não estou plenamente tranquilo. A minha escolha nr. 1, e óbvia, seria Guardiola. Já considerando esse 1 ano de espera. Em 6 meses ele estaria apto ao Brasil e em seu esplendor.

Não sendo possível, as duas alternativas mais adequadas seriam Jorge Jesus e Abel Ferreira, não necessariamente nessa ordem. Qualquer um dos dois pode ser considerado abaixo de Ancelotti em termos táticos, hei de concordar, porém, se apenas o conhecimento tático fosse suficiente, o saudoso Telê Santana teria voltado da Espanha com a Copa…

É por isso que eu afirmo no título do texto: Gostei de Carlo, mas não muito.