Estamos de volta com o Dia da Garimpagem, trazendo um pouco mais sobre o disco mencionado na postagem de quarta-feira. Imyra, Tayra, Ipy é considerado por muitos a obra-prima do músico Taiguara. | ||
Nascido no Uruguai e radicado no Brasil, iniciou sua carreira na década de 1960, ligado a nomes como Toquinho, Vinícius de Morais e Chico Buarque, consolidando-se após participar dos festivais musicais da época. Com um trabalho de natureza existencialista e poética, no qual expressou suas visões políticas – Taiguara sempre se declarou comunista e admirador de Luís Carlos Prestes – foi visadíssimo pela Censura Federal, tendo várias de suas canções proibidas e levando-o a autoexilar-se em 1973. | ||
De volta ao Brasil em 1975, começou a gravar o icônico disco Imyra, Tayra, Ipy, baseado no livro Quarup, de Antônio Callado. Juntou um seleto grupo de instrumentistas de primeira linha, como Hermeto Pascoal, Wagner Tiso, Toninho Horta, Nivaldo Ornelas, Novelli, Jaques Morelembaum e uma orquestra sinfônica de 80 membros, num processo que durou cerca de seis meses, marcado pelo extremo perfeccionismo do cantor. Lançado em 1976, ficou apenas três dias nas lojas, tendo seus exemplares recolhidos e destruídos por ordem da Censura. Taiguara pretendia realizar um show de lançamento junto às ruínas de São Miguel das Missões, o qual também foi proibido. Isso levou o cantor a um novo período de autoexílio. Quanto ao disco, por muitos anos supunha-se que a matriz havia se perdido, até que produtores japoneses compraram os direitos da obra e a lançaram no Japão em 2002. No Brasil, foi relançado somente em 2013. | ||
Com canções que retratam sua visão política expressas em forma de analogia poética para driblar a Censura – a ponto de colocar sua esposa como compositora nas letras mais passíveis de proibição, o disco está longe de se resumir a mero panfletarismo, transcendendo para dimensões mais elevadas. Transparecendo sua miscigenada ascendência indígena, africana e hispânica, o álbum é uma ode à liberdade e à brasilidade, misturando uma série de gêneros musicais num clima de psicodelia e experimentações, num misto de Tom Jobim, Heitor Villa-Lobos e rock progressivo. Em suma, um álbum à frente de seu tempo que tem sua qualidade reconhecida até por pessoas que estão longe de se identificarem politicamente com a “esquerda”. Em um vídeo do canal Brasileirinhos, canal notoriamente conservador, o personagem Gatão fez o seguinte comentário sobre o disco: | ||
Taiguara foi um incorrigível doidão, que nem eu. Esse medley que vocês acabaram de ouvir teve como base a obra-prima dele, chamada Imyra, Tayra, Ipy, lançada em 1976. Setenta e seis horas após o lançamento, a ditadura militar censurou o disco, fez a limpa nas lojas e destruiu as cópias. O disco só foi oficialmente relançado no Brasil em 2013. Depois de ouvi-lo várias vezes, é difícil não se perguntar: o que que esses retardados viram de mais no disco? Respaldados nos mais belos pretextos cívicos, algum idiota percebeu ali algo que poderia melindrar o grupo político do qual ele fazia parte. E o mundo ficou sem poder olhar através de uma das raras fendas para outra dimensão. O vento virou. [...] Saímos da ditadura militar para entrar na ditadura dos filistinos | ||
(PS: Quem serão esses “filistinos” de hoje? De quem não se pode falar? Será que são mesmo os que podemos estar pensando? Ou será que os que estamos pensando na verdade são mera “cortina de fumaça”? Pensemos nisso...) | ||
Por hoje é isso! Até o próximo Dia da Garimpagem! |