Diário da Copa 13 - Espetáculo
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Diário da Copa 13 - Espetáculo

Após a primeira rodada, confesso ter tido algumas surpresas nesse grupo. A primeira delas, eu não esperava, até aquele momento, uma Costa Rica tão fraca. De fato vinha pior do que em edições passadas, mas presumi que seriam capazes de disputa...

Enrich Vasconcelos
10 min
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Após a primeira rodada, confesso ter tido algumas surpresas nesse grupo. A primeira delas, eu não esperava, até aquele momento, uma Costa Rica tão fraca. De fato vinha pior do que em edições passadas, mas presumi que seriam capazes de disputar mais do que fizeram contra a Espanha, que não surpreende em o quanto pressionou no jogo, visto que é característico dos mesmos, mas a surpresa é, justo o time que tem problemas para fazer gols, ter conseguido 7 em uma única partida. Na outra partida, eu esperava o Japão vindo forte para este grupo, tanto que pus eles avançando de fase, não a Espanha, mas me surpreendi com a virada, merecida, contra a Alemanha. Já a Alemanha não me surpreendeu em nada, uma seleção capaz e de grande qualidade, que tende a dominar completamente os primeiros tempos, mas começando a decair com substituições, visto que a profundidade do elenco pode até ser grande, mas nem todos estão prontos para desempenhar seu melhor em um palco tão opressivo quanto o da Copa.

Para a segunda rodada, Japão jogava contra a combalida Costa Rica para assegurar sua vaga, que após a vitória contra a Alemanha só dependia de si, já a Alemanha enfrentava a Espanha para não ser eliminada. Um confronto de 5 títulos mundiais em uma segunda rodada de Copa do Mundo. É tipo um treino normal do Brasil.

Japão x Costa Rica - Sem espaço para falhas

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A Costa Rica tinha um estilo de jogo muito específico na época que derrubou gigantes na Copa de 2014: um sistema defensivo extremamente sólido, voltado a povoar o meio campo e marcar forte para não dar o espaço para jogadas bem trabalhadas, visando minar a capacidade ofensiva do adversário e, em casos disso não funcionar, confiar em um goleiro acostumado a fazer defesas milagrosas para manter-se no jogo e, com o decorrer do tempo, com o cansaço e o senso de urgência do oponente aumentando, visto que qualquer seleção se via como favorita diante da Costa Rica e tinha essa obrigação implícita de vencer, conseguiam encaixar um bom contra-ataque ou uma roubada de bola em áreas perigosas para matar o jogo. Nesta partida, tivemos um gostinho desta Costa Rica.

Já o Japão, que quase bateu a Bélgica em 2018, tinha um estilo bem diferente, muito menos físico e muito mais rápido. Tendo um condicionamento físico e uma habilidade técnica menor do que a da maioria das seleções, eles compensavam isso com muita velocidade e vontade, aliados à disciplina tática, isso gerava uma seleção ousada e extremamente perigosa. E foi exatamente isso que vimos contra a Alemanha e esperava-se que isso se mantivesse contra a Costa Rica, mas não foi bem assim.

Quanto as escalações. O Japão veio com algumas mudanças em relação ao primeiro tempo contra a Alemanha. Gonda se mantém como goleiro, na lateral esquerda, Nagatomo se mantém com a posição que ganhou durante o ciclo, aliados a Yoshida e Itakura na zaga, porém, na direita, a experiência de Sakai foi superada pelo bom momento de Yamane, que começa esse jogo. Endo, principal pilar desse meio campo, se mantém como titular, Morita ganha a vaga de Tanaka, o que considero um erro, visto que Tanaka consegue trabalhar a bola bem melhor em jogos que o Japão teria mais posse, como aconteceu, Kanada, por fim, completa o meio campo. Ito, um dos melhores jogadores do primeiro jogo, foi poupado no começo desse jogo, com Doan, grande promessa do Japão, iniciando o jogo. Já Kubo, na esquerda, perde espaço pra Soma e Maeda sendo substituído por Ueda no ataque. Esta substituição vi com bons olhos, pois Maeda é muito mais um velocista do que um jogador de área, que chega mais próximo das características do Ueda.

Já na Costa Rica, a mudança começa pela tática, mudando de duas linhas de 4, em um 4-4-2 bem fechado, e se transforma em um esquema de 3 zagueiros, com 2 alas, um 3-4-2-1. Navas continua no gol, mesmo tendo falhado bastante no primeiro jogo. Calvo e Duarte são mantidos na zaga, com Waston entre eles, agregando mais fisicalidade ao miolo da zaga. Os laterais viram alas, então Oviedo se mantém na esqueda, mas na direita Hernandez perde vaga pra Fuller. O meio campo central se mantém igual, com Borges e Tejeda jogando ali. Bennette perde a vaga para Torres no meio campo, que trabalha junto de Campbell atrás do atacante mais avançado, que se mantém em Contreras.

Com um meio campo mais povoado na Costa Rica e muito menos técnico no Japão após as mudanças, o jogo ficou bem truncado, para ser sincero, não aconteceu NADA no primeiro tempo (você não vai encontrar um lance de melhores momentos antes dos 45 minutos, pode procurar, eu espero). O Japão, no intervalo, parece perceber a urgência da situação, em que precisava apenas vencer para garantir vaga com antecedência em um grupo que não tinham nem o favoritismo para avançar, então mexem no time, tirando o atacante Ueda, que pouco contribuiu, e colocando Asano, para dar mais movimentação e construção no último terço do ataque, também substituindo o lateral esquerdo Nagatomo pelo atacante Ito, fazendo todo um reajuste de posições para ficar mais ofensivo. 

As substituições logo de cara deram efeito, com Morita tabelando com Asano e dando um forte chute aos 20 segundos do segundo tempo, obrigando Navas a fazer uma boa defesa. O Japão continuou pressionando, mexendo e pressionando, enquanto a Costa Rica, que não tinha dado um chute a gol em nenhum dos jogos, se mantinha viva no jogo. É então que, aos 35 minutos, em uma saída de bola afobada do Japão, que já começava a se desesperar para tentar vencer, a Costa Rica recupera a bola em uma posição perigosa e, com um chute sem peso de Fuller e uma falha do goleiro Gonda, abre o placar. Com uma boa defesa de Navas já próximo ao fim do jogo, a partida se encerra.

O Japão sai extremamente frustrado do jogo, indo de uma classificação quase certa contra um dos times mais fracos da Copa para um jogo difícil contra um dos melhores times da competição até aqui. Já a Costa Rica se mantém viva, mas tendo que enfrentar uma revigorada Alemanha na última rodada.

Destaques: Fuller (Costa Rica), Navas (Costa Rica), Kamado (Japão)

Alemanha x Espanha - O melhor jogo da Copa (até agora)

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Provavelmente o jogo mais esperado da primeira fase, Alemanha e Espanha chegaram em momentos impensáveis para este jogo. A tetracampeã chega derrotada, mas graças a derrota do Japão, não eliminada, mas precisando reagir para ter melhores chances de avançar. Já a Espanha chega após um incriticável 7x0, não só pelo placar, mas também pela performance de seus jogadores.

Pelo lado da Espanha, somente uma mudança, a substituição de Azpilicueta por Carvajal na direita, deixando em campo um jogador que adiciona defensivamente e que também é capaz de oferecer ofensivamente com suas, hoje em dia mais raras, chegadas a linha de fundo.

Já a Alemanha veio com duas alterações de jogadores e algumas de funções. O zagueiro Schlotterbeck e o atacante Havertz perdem a vaga para o lateral Kehrer e o meia Goretzka. Sule, que jogou de lateral na primeira partida, é movido para a zaga junto de Rudiger para acomodar Kehrer na direita. Gundogan passa a jogar mais à frente no campo, com Goretzka ficando na base da jogada. Com Gundogan sendo adiantado, é Thomas Muller que passar a ser o centroavante.

O jogo começou intenso e insano. A Espanha rapidamente tomou conta do meio campo, dominando a posse de bola como é de característica do time, chegando duas vezes com perigo, com uma delas a bola explodindo no travessão após uma monumental defesa de Manuel Neuer. Mas lentamente os técnicos foram fazendo seus ajustes. A Alemanha, que não conseguia sair jogando desde a defesa, deixou de vez a bola com a Espanha e passou a pressionar alto, incomodando o trabalho de posse do time espanhol e tentando roubar a bola antes do meio de campo para se estabelecer melhor no campo. O primeiro tempo todo decorreu neste belíssimo xadrez, com muita técnica, inteligência e, acima de tudo, chances de gols envolvidas. Tivemos até mesmo a ter um, com Rudiger marcando para a Alemanha de cabeça, mas foi anulado por questões de impedimento.

No segundo tempo, as propostas dos times se mantiveram, mas a Espanha perdeu muito de sua potencialidade ofensiva, com a Alemanha passando a ter as melhores chances, obrigando o goleiro Simón a fazer boas defesas. Luis Henrique, técnico da Espanha, resolveu então mexer. Tirou seu cunhado, Fernán Torres, e colocou Álvaro Morata, centro-avante, para tentar segurar a bola mais no ataque, deslocando Asensio para a lateral e gerando um trio ofensivo mais técnico e físico do que propriamente veloz, como vinha sendo. 

Em uma das poucas escapadas pelo lado esquerdo no segundo tempo, Olmo encontra Jordi Alba que, em um cruzamento rasteiro preciso, encontra Morata dentro da área. Para os que não me conhecem, eu até faço piada com as capacidades futebolísticas do Morata, mas sei que ele é um bom centro-avante. Perceba minha escolha de palavras, eu não disse jogador, eu disse centro-avante. Morata é o tipo de cara que pode dar um toque na bola, se ele fizer mais que isso, ele indubitavelmente estragará a jogada. Mas esse era o tipo de cruzamento que só um toque é necessário e nem mesmo Neuer conseguiu pegar. 1x0 para a Fúria.

Minutos depois, com a Alemanha claramente sentindo o gol que deixaria sua classificação com uma dificuldade hercúlea, a Espanha teve a chance de fazer mais um, o que mataria o jogo, em um contra-ataque 4x4. Mas Olmo, que fez uma boa partida, tomou a pior decisão possível: tocou para Asensio. O suposto jogador de futebol isolou a bola. 

Dessa vez foi a vez de Hans Flick, técnico da Alemanha, mexer. Tirou Kehrer para colocar Klostermann, mudando para uma formação de 3 zagueiros para liberar seus alas e ter mais jogadores livres para atacar, tirou também Muller para colocar Fulkrug, um centro-avante mais fixo e puro, tendo como ideia ter uma referência para as jogadas que criariam e, por fim, Sané no lugar de Gundogan, injetando mais velocidade pelos lados.

Nos 15 minutos finais, a Espanha parecia se fechar, pois não conseguia mais ter controle do meio campo desde o início do segundo tempo, já a Alemanha se lançava desordenadamente ao ataque, improdutivamente. Mas é então que a Copa, tão generosa conosco, abre espaço para o imponderável. Klostermann recupera uma bola alta no meio de campo, avança com ela e toca para Sané, que conduz para dentro e, tenta, lançar Musiala. A jovem promessa alemã domina mal, pressionado pela zaga, e a bola espirra para o pé de Fulkrug. O atacante da segunda divisão alemã enche o pé, vencendo facilmente Simón e empatando o jogo, naquele que seria o melhor jogo até aqui da Copa do Mundo. Até temos um último lance, com Sané saindo cara a cara com Simón, tendo a chance da virada, mas ele toma a decisão errada, tenta o drible, e a bola vai para fora.

Para todos aqueles que viram este jogo, a sensação que fica é de um jogo incrível e que tem grandes chances de ser a melhor das partidas da Copa. A Espanha, após a pressão levada no segundo tempo, sai aliviada de manter sua pontuação e liderança, tendo o Japão pela frente para assegurar sua vaga e, se possível, seu primeiro lugar. Já a Alemanha tem que vencer a Costa Rica e torcer para o Japão não vencer a Espanha, pois caso isso aconteça, suas chances de mata-mata ficam praticamente zeradas.

Destaques: Rudiger (Alemanha), Olmo (Espanha), Pedri (Espanha)

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