O que importa é o tamanho da dívida x quanto o clube de futebol fatura. Veja se o seu time está na pindaíba?
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O que importa é o tamanho da dívida x quanto o clube de futebol fatura. Veja se o seu time está na pindaíba?

Há um fetiche de muitos torcedores por saber o tamanho da dívida do seu clube de futebol. E as dos rivais! Mas o ranking de quem mais deve não é tão relevante como imaginam. Existe outra continha que tem maior importância e é de fácil compree...

Mauro Cezar Pereira08/25/2021
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Dinheiro curto: características de muitos clubes endividados no futebol brasileiro
Dinheiro curto: características de muitos clubes endividados no futebol brasileiro

Há um fetiche de muitos torcedores por saber o tamanho da dívida do seu clube de futebol. E as dos rivais! Mas o ranking de quem mais deve não é tão relevante como imaginam. Existe outra continha que tem maior importância e é de fácil compreensão, a que cruza o valor devido com o quanto se arrecada.

Se alguém ganha R$ 5 mil mensais (R$ 65 mil por ano com o 13º salário) e tem dívida de R$ 650 mil, está mais encalacrado do que a pessoa que embolsa R$ 20 mil/mês (R$ 260 mil/ano) e deve R$ 780 mil. Se um tem saldo devedor equivalente a dez vezes o que fatura, o outro possui déficit proporcional a apenas o triplo do arrecadado em 12 meses. Simples, não?

"Análise por ranking gera ruídos, além de números errados, é preciso contextualizar. Ainda mais num ano como foi 2020", explica Cesar Grafietti, que lidera a equipe responsável pelo estudo anual feito pelo Itaú BBA.

Nele, as finanças dos clubes de futebol do Brasil são esmiuçadas. E há um espaço dedicado à "Relação entre receitas e custos", com um gráfico apresentando a relação dinheiro que entra x dinheiro que sai. O aconselhável? "Gastar até 81% das receitas totais, de forma a 'sobrar' 19% para pagar dívidas e fazer investimentos", ressalta o documento.

Dívidas totais em 2019 e 2020 - Reprodução
Dívidas totais em 2019 e 2020 - Reprodução

O estudo mostra Palmeiras e Flamengo se destacando por receitas mais gordas e maior folga, enquanto o Atlético Mineiro tem o desequilíbrio mais acentuado. O relatório vai além, destacando que "não é possível analisar endividamento a partir do número isoladamente. É preciso compará-lo a item que indique capacidade de pagamento".

Como referência para apresentar equilíbrio, o Itaú BBA enfatiza que dívidas totais devem ser inferiores a 1,35x das receitas. Tal indicador foi definido após estudo da última década de balanços dos clubes. Ou seja, quem fatura R$ 100 milhões por ano não deve ter saldo devedor superior a R$ 135 milhões. Se chega a R$ 200 milhões, no máximo R$ 270 milhões de dívida.

Nesse quesito alguns chamam a atenção. Em número absolutos, de 2019 para 2010, a do Atlético Mineiro saltou de R$ 802 milhões para R$ 1,271 bilhão. Com isso, o Galo assumiu a liderança da lista dos endividados do Brasil em números absolutos.

Pela fórmula acima, para equilibrar as finanças a receita atleticana no ano passado deveria ser de R$ 941,480 milhões. Mas não passou dos R$ 140,122 milhões. Se o vermelho nas contas do Atlético era equivalente ao triplo de seu faturamento em 2019, em 2020 ele superou sete vezes o arrecadado no ano.

Atlético viu dívida dispara de 3,0 para 7,1 vezes o quanto arrecada - Reprodução
Atlético viu dívida dispara de 3,0 para 7,1 vezes o quanto arrecada - Reprodução

Já a dívida do Corinthians, segundo do ranking, era de R$ 916 milhões ao final de 2020. Alta, sem dúvida, mas equivalente a apenas 2,1 vezes o faturamento. No entanto, existe o agravante do estádio, que ainda precisa pagar e não aparece no balanço. Tem outro CNPJ, mas a receita para quitá-lo terá que sair do clube, pelo menos em tese. Ou seja, na realidade a relação dívida x faturamento corintiana é pior do que aparenta.

Os dois cariocas da Série B se encaixam no exemplo acima de quem ganha R$ 5 mil e R$ 20 mil mensais. O Vasco devia R$ 725 milhões em 31 de dezembro, ou 3,8 vezes o que arrecadou em 2020. Já o Botafogo aparece um pouco abaixo no valor bruto, com R$ 717 milhões, mas em situação pior, pois isso significa 5,1 vezes o quanto conseguiu faturar no período.

O Cruzeiro vem em seguida, com R$ 662 milhões de dívida, ou seja, 5,5 vezes seu faturamento. Nesse quesito o cenário de seu maior rival é mais preocupante. Dos três de Minas Gerais, o América apresenta cenário menos turbulento. Tem torcida muito menor, mas deve duas vezes o que fatura.

Logo depois surgem Palmeiras, com R$ 642 milhões, e Flamengo, R$ 582 milhões. Detalhe: o endividamento rubro-negro significa 0,9 do quanto gerou de receita no ano e o alviverde 1,0. Ambos estão bem abaixo do teto de 1,35x.

Como outros clubes, receberam apenas em 2021 receitas referentes ao ano passado, pois a temporada se estendeu, com os títulos mais importantes definidos entre janeiro e março. No caso dos dois, são valores significativos pelos direitos de transmissão e títulos conquistados (Libertadores, Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro).

Esse exercício deixa bem clara a situação de cada um com relação ao tamanho de suas dívidas. E nesse texto sequer entramos em pormenores, como endividamento de curto prazo, aquele que precisa ser pago hoje, para ontem, amanhã, em breve! É o mais preocupante, naturalmente.

Tempo necessário para que cada um zere o que deve  - Reprodução
Tempo necessário para que cada um zere o que deve  - Reprodução

O problema é dever mais do que pode, ou seja, é preciso entender a capacidade de endividamento de cada um. Um cidadão que cria uma grande dívida adquirindo um imóvel, por exemplo, precisa saber se terá como pagá-la, em suma, se a prestação cabe em seu orçamento.

Há outra tabela importante no relatório do Itaú BBA (acima). Ela mostra quanto tempo seria necessário para que cada clube quitasse sua dívida, a partir daquilo que conseguiram faturar, em média, nos três últimos anos.

O Atlético Mineiro precisaria de 27 anos! A Ponte Preta 24, o Botafogo 21, o Vasco 16, Flamengo e Palmeiras cinco, Grêmio três anos, Fortaleza e Ceará apenas dois. E os dois clubes cearenses fazem, em campo, bem mais do que muitos colecionadores de dívidas.

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