Quando a imprensa esportiva prejudica, muito, o futebol

O calendário do futebol brasileiro é dos mais bizarros. Em pleno 2022 ainda dedicamos mais de dois meses aos Campeonatos Estaduais. Isso porque estamos em ano de Copa do Mundo, ou eles demorariam pelo menos um trimestre. Para quem pensa nas grandes conquistas e tem time para tanto, são jogos de pré-temporada valendo uma taça.H

Claro que a conquista de um certame como o Paulista, o Carioca, Mineiro,Gaúcho, Cearense, Goiano, Baiano, Pernambucano etc, tem seu valor no âmbito local e, para muitos clubes, é o título possível dentro de toda uma temporada. Mas isso não significa que tais certames devam ocupar tanto tempo no calendário, estrangulando as competições mais relevantes.

Hoje percebe-se uma incrível a dificuldade de muitos na imprensa esportiva diante de uma missão que é clara: analisar o momento dos Estaduais como mero período de preparação, enxergá-lo apenas como início da longa temporada que se estenderá por vários meses adiante. E que neles virão seus momentos realmente relevantes, pesados.

Contudo, são tiradas várias conclusões, algumas definitivas, como se os times estivessem apresentando seu melhor em março. Ora, é óbvio que dentro de uma progressão normal, que nem sempre ocorre mas é a meta de todos, uma equipe chegará ao seu melhor momento mais à frente, com treinos, jogos, entrosamento, aprimoramento do que o grupo apresenta.

Por isso são precipitadas tantas conclusões jogadas ao público por parte da mídia nesse momento. Para o bem e para o mal. Times em formação são criticados como se fosse possível assegurar que não evoluirão, enquanto outros, que conseguem resultados rápidos por uma série de razões, passam a ser elogiados como se a manutenção do desempenho fosse garantida.

Uma significativa parcela da mídia, na qual me incluo, diz que os Estaduais são menos importantes e servem como pré-temporada. E são, ou alguém tem dúvidas? Pois durante esses mesmos certames parte da imprensa "define"quem é bom e quem é ruim. Mas se estamos na fase de preparação, de ensaios, como ter certeza de que algo que se vê no começo do ano será o máximo ou péssimo?

Claro que alguns trabalhos mostram, de cara, pouca, talvez nenhuma perspectiva, ou sinais de que algo muito bom vem aí. Mas em qualquer cenário há quem consiga engajamento, seguidores etc falando o que muitos querem ouvir, seja por imediatismo ou pelo vício do resultadismo. Alguns, ao mesmo tempo, pedem tempo para que trabalhos sejam desenvolvidos, em clara contradição.

E assim a imprensa esportiva prejudica, muito, o futebol.