Análise: Desafios de 2021 para 2023
0
0

Análise: Desafios de 2021 para 2023

A maioria das pessoas considerou 2021 um ano surreal. E não é para menos. Muitos foram os motivos para essa conclusão, em especial no Brasil: economia ruim, C19 tão à vontade quanto festanças clandestinas, caça aos ossos à guisa de carne, aum...

Salete Rossini
9 min
0
0

A maioria das pessoas considera 2021 um ano surreal. E não é para menos. Muitos foram os motivos para essa conclusão, em especial no Brasil: economia ruim, C19 tão à vontade quanto às festanças clandestinas, caça aos ossos à guisa de carne, aumento da miséria, desemprego recorde, flagelo das chuvas extremas, mamata das fardas, vagabundagem governamental .....

Economia - Em 2020, vi muitos comemorarem como melhora de melhora em 2021. No mundo até acredito, mas no Brasil deu de ré. Porque " o Brasil não pode parar " para " salvar a economia ", em 2021 uma única coisa que andou foi o Corona, que fez festa geral sem medida de março a junho, para maneirar depois, e mesmo assim finalizar o ano com 700 mil mortes oficiais, sem contar outras causas. A cada montoeira de mortes (subestimada), o governo se regozijava em churrascos e aglomerações.

Empregabilidade - Como mais se demitiu do que se empregou formalmente, os vivos, sobreviventes ao Corona e os sortudos, se arranjaram como puderam, como "empreendedores de aplicativos" ou subempregados informais. Algumas centenas seriam flagradas em condições de trabalho escravo ou análogo ao escravo, resgatados pelo MPT, tanto nas zonas rurais quanto nas urbanas.

Em 2021, o recorde de desemprego (oficialmente, em torno de 14,8%) atingiu mais as classes populares, nos seguintes perfis: não branca, mulher, menos escolarizada, casada ou mãe solo, moradora de favela ou cinturão periférico urbano (subúrbio ) Entre os homens, os mais atingidos padrões perfis parecidos: não brancos, menos escolarizados, casado, também morador nas mesmas áreas citadas.

Como já sabemos, o governo não tem nenhum plano de fomento de emprego para 2022, mesmo tendo instaurado a medida de desoneração da folha, que beneficia as partes empregadoras. Os números sobre os novos postos de trabalho formais no fim de 2021 são bastante confusos e, daí, desconfiáveis. 

Inflação e câmbio - é certo que estes foram os dois maiores desafios deixados por 2021, que merecem ser enfrentados neste novo ano. Segundo projeções oficiais, a inflação de 2021 terminou em dois dígitos, mas é certo que, com a velocidade recorde de empobrecimento, tenha alcançado três dígitos, corroendo severamente o poder de consumo das classes populares.

Os três dígitos deveriam ser oficializados, considerando-se os níveis de desemprego e de subemprego, que na prática abarcam até 80 milhões de pessoas, e a desvalorização do salário e do real. O fechar de olhos do governo a esta realidade é inerente à tradição de se reconhecer como oficiais apenas as cifras referentes às classes mais abastadas, mesmo consideravelmente abaixo da nata.

Bolsa Família, Auxílio Brasil- Benefício de caráter perpétuo, mesmo de baixo valor e exigente quanto a crianças na escola e com vacinação em dia, o Bolsa Família foi um alento para 30 milhões de famílias. Em 2021, por ideologização, o governo Bolsonaro matou o programa, e criou o seu Auxílio Brasil, que morrerá após 31/12/2022 e não abarca tanta gente. O Auxílio Brasil já surge como mais uma dor de cabeça a ser resolvida em 2023. 

Meio ambiente - Que a destruição dos nossos biomas sempre foi um problema, disso bem sabemos. Sabemos que nem nos governos democráticos houve alguma pausa na destruição. Na ditadura militar chegou a ser considerada "sinal de progresso", de viés ideológico. Vemos que a falsa visão da ditadura se repete, mas com outro viés, o da destruição gratuita, com direito a perseguição e assassinatos de povos originários. 

Embora os nossos meios tenham explorado insistentemente o tema, e o repercussão internacional tenha redundado em desafeição diplomática, as reportagens têm tido caráter algo maquiado pela blindagem do anarconeoliberalismo de Paulo Guedes, do megaempresariado e dos grandes pelo agronegócio, dado a ligação dos com o referido objetivo econômico-ideológico.

O agronegócio é um dos maiores vilões da destruição e suas consequências. É o principal consumidor de água no país, tão sem medida quanto solta gases-estufa na atmosfera por conta da criação de gado e das monoculturas destituídas à exportação. Além, vale dizer, de contaminar, também sem medida, solos e mananciais (e lençóis freáticos onde há) com grandes cargas de agroquímicos, muitos destes proibidos no resto do mundo.

Os latifundiários também não fazem uso social da terra, previsto na Constituição. Tal uso ocorre quando uma porção de terra improdutiva se destina a assentamentos de pequenos produtores, como forma de colaboração no manejo das áreas ambientais protegidas e produção para consumo interno. Os pequenos produtores respondem por mais de 70% do consumo alimentar interno, e são os mais impactados pelos efeitos da destruição ambiental.

Por conta dos efeitos sobre a regulação climática e a qualidade da atmosfera, a política ambiental será outra tremenda dor de cabeça para ser resolvida somente em 2023, pois em todo 2022 esse tema simplesmente será ignorado pelo governo atual. Enquanto isso, para este ano podemos esperar novos recordes destrutivos, e muito orgasmo em Brasília.

Saúde - Vimos um paradoxo: ainda mais precarizado neste governo, o SUS foi o maior inimigo do Corona em 2021, através de esquemas de vacinação iniciados pelos governos estaduais indiferentes à negação federal e por aval do STF. Enquanto isso, os testes nazistas eram feitos em pacientes tornados cobaias em hospitais de algumas das operadoras de planos de saúde, cuja lucratividade foi maior pelo desvio de recursos do SUS do que pelas mensalidades de milhares de clientes - inclusive os que morreram nos testes.

Nesses hospitais ocorreu tudo o que se poderia imaginar, conforme prescrito pelo Ministério da Saúde: o famigerado kit-C19 (cloroquina, ivermectina, azitromicina, dipirona e vitamina D), ozônio no reto (ideia de prefeito de uma cidade do interior catarinense) e ocultação de C19 como causa de morte em atestados de óbito. Tudo isso, sem autorização das famílias dos pacientes. E sem vacina.

Como o citado enriquecimento ilícito das operadoras de planos de saúde é conhecido há anos e os testes nazistas foram revelados na CPI da C19, o povo pode finalmente construir um pouco de confiança ou fé no SUS, que foi o grande responsável pelas picadas salvadoras que foram a arma maior contra os Coronas, e aprenda a desconfiar da saúde privada, que por seu turno tem sido alvo de reclames há anos.

CPI da C19 - Falando em CPI da C19, eis uma das melhores surpresas deste ano. Além do efeito de maiores índices de vacinação a partir de sua ocorrência, um CPI da C19 foi mais fundo ao erodir como bases monolíticas do bolsonarismo, ao convocar cientistas para combater as falsidades sobre um C19 e como vacinas, e também incluir, entre todos os acusados ​​formalmente acusados ​​de sepulturas de crimes, o presidente da República, com fortes evidências.

A convocação de cientistas renomados deu à CPI um caráter mais elucidativo, mais educativo, mais cidadão. Ainda que seu efeito não fosse absoluto, um CPI libertou a maior parte da credulidade geral nas falsidades sobre um C19 e como vacinas levando, enfim, à corrida em busca da picada salvadora nos pontos de postos de saúde pública em todo o Brasil. Hoje, se há informação estatística ou não, o número dos recebidos pelo menos 2 doses 

STF - Apesar de criticada, a Corte também erodiu as bases bolsonaristas em algumas ações. Após, reconhecer por voto majoritário, a suspeição do ex-juiz Sergio Moro nos julgamentos que condenaram Lula, a instituição também revogou alguns decretos presidenciais inconstitucionais e ainda enfrentou os antidemocráticos liderados pelo próprio governo.

Algumas das lideranças bolsonaristas envolvidos eram aloprados como o deputado federal Daniel Silveira, e Sarah Giromini, do grupo "300 pelo Brasil" (que mal agregou 30 cabeças). Outros fugiram para os EUA, pagos com grana pública, como o blogueiro Allan dos Santos e o ex-MEC Abraham Weintraub, que supostamente conseguiu um carguinho no Banco Mundial nas terras ianques.

Sabem do Olavo de Carvalho, o filósofo astrológico que foi guru do governo e brigou com as azeitonas do generalato do governo? Pois é. Soubemos que foi internado em hospital do SUS por carregar em seus ombros e costas carcomidos pelo tabagismo severo e pelo sedentarismo, uma dívida astronômica com a saúde estadunidense, após ter se internado lá porque seus pulmões não aguentam mais o tabaco que defende. Ele também fugiu para não ser preso.

O retorno de Lula - A reconhecida suspeita de Moro fez com que Lula fosse solto, pois aqueles julgamentos foram anulados por parcialidade do ex-juiz. Isso deu novo ânimo aos seus advogados, que correram atrás até que foram anulados outros processos. Mesmo juridicamente "inocentado" casos, o ex-presidente teve de volta os seus direitos políticos. 

Vimos tudo isso e os efeitos surtidos: uma popularidade aparentemente maior, e também a guinada nas intenções de voto, quando as pesquisas a partir de então o incluíram na lista dos presidenciáveis ​​para 2022, e a revelação de uma preferência crescente a cada estudo simulado. As pesquisas mais recentes apontam à beira de até 48% das intenções de voto para o petista, contra o pouco mais de 21% para Jair Bolsonaro.

Enfim ... - Embora muitos bons ventos tenham amenizado como turbulências vistas em 2021, é certo que teremos um 2022 de desafios ainda muito importantes, em especial na área econômica, onde tudo está ainda incerto. Enfim reconhecido como BCB, ou Bad Chicago Boy , Paulo Guedes nos reserva ainda um 2022 repleto de dor de cabeça, devido às medidas antieconômicas instauradas. 

Como esse governo tem tudo para permanecer por todo o ano (possibilidade quase zero de impeachment), os muitos desafios criados e outros agravados a partir de 2019 terá o seu montante acrescido em 2022. Até porque, com exceção de algumas manobras eleitoreiras, a primeira delas a já manjada internação por entupimento do tubo de esgoto neste início de ano, tudo o mais será empurrado para a frente. Pois já sabe de sua derrota.

Não sabemos como será a atuação do próximo governante, mesmo que este seja um nome tão conhecido como Lula, Ciro ou qualquer outra raposa política. A soma da inteligência com a perspicácia e o gosto pelo desafio será definitivamente necessária a esse governante para que, pelo menos em parte, não ter a sensação de que pegou um elefante branco atolado na lama do fundo do poço. Que venha 2023!